terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Criando memoria gustativa e memória da saudade

Lembro que quando eu era criança via uma preparação com ingrediente diferente fazia o que a maioria das crianças fazem hoje: a cara de "não quero este negócio aqui". A minha bisa, na sua sabedoria, dizia: experimente e se não gostar coloque num canto do prato. Ela e nem os meus pais tiravam o ingrediente.
Ai se eu não quisesse comer nada do prato, a consequência era simples: ficava sem comer nada até a próxima refeição. Entretanto, quando eu não gostava de um item eles nunca forçavam a repetir a experiência e respeitavam a minha escolha.
As vezes, eu voltava a experimentar para ter certeza das minhas escolhas. A minha bisa, principalmente, incentivava este tipo de atitude. Nunca houve reprimenda por eu não gostar deste ou daquele. Simples como é: deixar num canto do prato.
Assim eu fui experimentando ingredientes e preparações novos e diferentes. O mais legal que na fase adulta e com a profissão que escolhi, vejo que tem muita coisa guardada no fundo da gaveta de sabores e aromas. Continuo juntando sabores e aromas nestas gavetas.
Outro dia, senti o cheiro de agrião fresco e lembrei que colhia agrião num córrego junto com a minha avó. Eu ri alto e o feirante olhou desconfiado. Perguntei: vc colheu hoje de manhã e foi perto de um córrego? O homem quase surtou. Expliquei como eu sabia. Ele se tranquilizou.
Percebi então que eu guardava aromas e sabores junto com as experiências vividas com elas. Boas e más!
O mais gostoso e importante: faço ainda hoje quando vejo comida, ingredientes, preparações diferentes.
Farei até morrer. Espero que eu tenha memória suficiente.
Experimentem!

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