terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Tradições de família

Venho de uma família de imigrantes japoneses. Meu pai é importado e a minha mãe é filha de japoneses. Nasci e cresci num berço de ouro, não de riqueza material e sim de riquezas de culturais e tradições.
Primeira língua que aprendi foi japonês, sofri para depois aprender o português, Até hoje, quando fico muito nervosa troco muitas gramáticas e acabo considerando o japonês. Eu já nem tento explicar por parecer coisas de bipolar.
O que me agrada muito é a mistura de cultura culinária que esta família criou durante as décadas de 60 e 70, período em que a bisa e avó tomavam conta da cozinha. As duas fizeram um mix de comida  e sabores. Por exemplo: aprendi a comer batata frita com shoyu e adoro.
Aprendi a saborear um bom feijão temperado e acompanhado de um nishimê (cozido de legumes) com sabor agridoce.
No final de ano, no mês de dezembro, era o período de juntar os ingredientes para fazer o banquete ou gotissô, como dizem os meus pais. Tinha tudo que se pode imaginar: leitão assado, sushi, sashimi. Sushi tradicional e o sushi da provincia de ondes eles vieram com alga (eu particularmente amo este sushi).
Dia 31, a minha vó falava: este noite é para passar em casa. Nada de sair. Uma mesa de 4 metros forrada de gotissô. Todos a mesa, comportados e educadamente nos servíamos para saborear cada porção ou pedaço. Uma delícia.
Dia 01, era o dia do ozoni (consomê com moti). Consomê era feito com a carcaça de peixe que virou sashimi, temperado com shoyu, bolinho de arroz e um pouco de cebolinha. Era obrigatório comer uma cumbuca para ter sorte durante o ano. Sem contar os cumprimentos.
Abaixava a cabeça e "Shinem omedetô, kotoshi mo onegai shimassu". Quando criança, eu nada entendia, eu era o papagaio. Conforme fui crescendo, entendi que os laços familiares e fraternos cruzam sempre e sempre precisaremos deles para levar a nossa vida para frente.
O tempo passou, a bisa e os meus avós viraram estrelas e a família comemora cada uma na sua casa. E assim remixamos as tradições familiares com as dos agregados e uma nova tradição nasce.
Única tradição que faço questão de manter: "Shinem omedetô. Kotoshi mo onegia shimassu". Feliz Ano Novo, conto contigo para fazer este ano melhor"

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Meus primeiros passos na culinária japonesa

Já escrevi aqui que eu aprendi a cozinhar com a minha bisa ainda criança (hoje em dia, ela seria presa por esta atitude).
Hoje vou escrever como aprendi a preparar comidas japonesas. Esta culinária aprendi com a avó materna. Ela tinha um dom para esta culinária.
Até os meus 16 anos, morei na casa do meu avô materno. Desde pequena, via a avó preparando comidas típicas japonesas para ocasiões especiais (Ano Novo principalmente).
Aprendi com ela como temperar corretamente o arroz cateto para fazer os vários tipos sushis, como cozinhar os "miolos" dos sushis.
Ela tinha uma delicadeza nata para preparar que tanto fazia se era para 5 ou 50 pessoas, fazia com uma agilidade e calma que me encantava.
Com ela, aprendi a preparar nishime (cozido de legumes), fazer manju, moti, oniguiri.
Até hoje carrego muito desta culinária, apesar de não preparar quase nada em casa.
O dia que disse que queria aprender a enrolar o sushi, tinha lá os 9 anos, ela montou o mise en place e fez uma única vez. Pediu para eu montar. O primeiro sushi a gente nunca esquece. Tinha um formato esquisito, arroz saindo pelas tampas. Um horror. Ela ainda me elogiou! E o mais legal: incentivou-me enrolar o outro. Lá pelo 5º sushi, consegui fazer um quase perfeito. A partir deste dia virei ajudante oficial da "obatchan". Achei o máximo. Tinha até um avental só meu.
Aprendi a cozinhar também no fogão a lenha que tinha no anexo da casa. Esta técnica já quase esqueci tudo que aprendi.
Tenho um arrependimento: não aprendi a cortar o sashimi.
Motivo: na primeira tentativa cortei o meu dedo e ela achou por bem não mexer com a faca do sashimi. Um arte. Deveria ter insistido mais....Uma pena....



segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Hoje falarei de um "causo" no bairro onde moro faz mais de 20 anos. Numa época em que o supermercado eram poucos e tinham sim quintanda. Ambos fechavam de domingo, funcionavam das 8 às 18h ou 20h, etc., e não é essa expansão que há nos tempos modernos. Açougue então nem se fala. Açougue eram encontradas somente fora de supermercados e dos freezeres de muitas lojas de rua.
Como eu trabalhava durante o dia, comprava carne num açougue na volta para a casa durante a semana. Porque a loja formava fila durante o final de semana e na manhã de sábado fazia faxina em casa. Típico né?
Eu chegava no açougue e sempre pedia para cortar uma peça que estava na geladeira. Sabia que era uma forma de enganar o meu cérebro, achando que a carne estava refrigerado, etc. etc. etc.
Até que um dia eu vi a entrega de peças de carne e quase potei o almoço para fora. Carro com refrigeração desligada, a roupa dos carregadores nojento, mas o que mais me deixou enojada foram as botas. O calçado que pisava na rua (onde eu andava) andava pelo piso do caminhão e, principalmente, onde o cara colocava as peças separadas da loja. Prometi a mim mesma que nunca mais compraria carne em açougue de rua. Só que fiquei na minha, porque as minhas neuras são só minhas e não preciso soltar aos 4 ventos. Sendo que na época havia feiras livres que vendiam carnes sem refrigeração.
Pensado bem, eu não tive diarreias graves por Deus.
Onde compro carne hoje? Em supermercados onde tem normas e a fiscalização está atenta. Se estou segura? Acho que não e continuo enganando o meu cérebro. O que os olhos não vem, o corpo e a mente não sentem.

Pírulas mágicas

Depois de muito tempo, volto a escrever este blog.
Na verdade, acho que vivo uma crise profissional. Sou nutricionista de formação e sou cozinheira por prazer (sou mais cozinheira do que nutricionista).
Onde está a minha crise profissional?
As pessoas acham que existe um pó mágico, um comprimido ou sei lá mais o que, que as fazem emagrecerem de um dia para o outro, no máximo de uma semana para outra.
Aí descobri que as pessoas tem preguiça ou não tem interesse por preparar a sua própria refeição.
Ensino a preparar a sua própria refeição, descubro que a pessoa não querem ter uma alimentação saudável. Atividade física? Nem pensar.
Percebo que elas preferem fazer uma cirurgia bariátrica ou pagar o mico com uma sonda nasogástrica do que dar ao corpo uma alimentação equilibrada.
Vejam, não estou falando de regime e sim de uma alimentação equilibrada.
Alimentação equilibrada que é simples. Café da manhã (que muita gente pula), uma fruta ou um pequeno lanche no meio da manhã, almoço, um lanche no meio da tarde e o jantar (muita gente não jantar por achar que engorda comer a noite).
Explico que o nosso corpo é uma máquina perfeita, que faz de tudo para manter funcionando, cria até mecanismos de armazenamento.
Neste ponto, gastei toda a minha saliva e a cliente acha melhor tomar um remédio para emagrecer.
Fica uma pergunta na minha mente: eu gosto de mim? Mas seguro a língua e a boca fica fechada.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Criando memoria gustativa e memória da saudade

Lembro que quando eu era criança via uma preparação com ingrediente diferente fazia o que a maioria das crianças fazem hoje: a cara de "não quero este negócio aqui". A minha bisa, na sua sabedoria, dizia: experimente e se não gostar coloque num canto do prato. Ela e nem os meus pais tiravam o ingrediente.
Ai se eu não quisesse comer nada do prato, a consequência era simples: ficava sem comer nada até a próxima refeição. Entretanto, quando eu não gostava de um item eles nunca forçavam a repetir a experiência e respeitavam a minha escolha.
As vezes, eu voltava a experimentar para ter certeza das minhas escolhas. A minha bisa, principalmente, incentivava este tipo de atitude. Nunca houve reprimenda por eu não gostar deste ou daquele. Simples como é: deixar num canto do prato.
Assim eu fui experimentando ingredientes e preparações novos e diferentes. O mais legal que na fase adulta e com a profissão que escolhi, vejo que tem muita coisa guardada no fundo da gaveta de sabores e aromas. Continuo juntando sabores e aromas nestas gavetas.
Outro dia, senti o cheiro de agrião fresco e lembrei que colhia agrião num córrego junto com a minha avó. Eu ri alto e o feirante olhou desconfiado. Perguntei: vc colheu hoje de manhã e foi perto de um córrego? O homem quase surtou. Expliquei como eu sabia. Ele se tranquilizou.
Percebi então que eu guardava aromas e sabores junto com as experiências vividas com elas. Boas e más!
O mais gostoso e importante: faço ainda hoje quando vejo comida, ingredientes, preparações diferentes.
Farei até morrer. Espero que eu tenha memória suficiente.
Experimentem!

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

A arte de cozinhar

Por um longo tempo, desde que a minha bisa me ensinou a cozinhar, achei que fazer comida era uma obrigadação. Com 24 anos tive um click mental e fui fazer nutrição, achando que ensinariam a preparar refeições. Ledo engano. Como a vida dá suas voltas, fui fazer estágio numa cozinha experimental, onde cozinhar era tudo. Aprendi a minha maneira a criar receitas e executá-las. Com o passar dos tempos, aprendi culinária, gastronomia sem fazer curso específico. Adquiri habilidade trabalhando com pessoas e profissionais do bem que ensinam e eu nunca deixei passar as oportunidades.
Passado anos, percebi que cozinhar é um ato de amor. Ouvir os ingredientes e temperos para o prato sair redondo. Daí veio a pergunta, como fazer para que o outro execute igual? O outro tem que estar na mesma sintonia. Amar cozinhar, respeitar os ingredientes e assim tudo fica muito gosto.
Há um outro item fundamental: tempo. Criar e executar receitas precisa de tempo...
E o mais interessante que todos podem cozinhar e bem.
Quer tentar? É respirar fundo e deixar a energia dos alimentos fluir por todo o seu corpo e aproveitar o tempo.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Um dia de cada vez na cozinha

A cozinha é um laboratório solitário.
Acertos e erros feitos neste espaço sagrado são meus. Não estou falando de sucesso ou insucesso e sim do momento de aprendizagem.
A minha bisa me fez conhecer este mundo, comida caseira, comida para cerca de 10 pessoas, trabalhando com safra e escassez.
Hoje os tempos são outros. Tem ingredientes que tem o ano todo e fazer comida ficou mais fácil e gostoso.
Melhorou muito depois com a abertura de mercado na era Collor. Conheci novos ingredientes, ingredientes diferentes, ingredientes que podem ser misturados, separados, técnicas e utensílios novos.
Hoje um simples arroz, pode ter um toque especial de Flor de sal do Caucaso, o importante é ter vontade de experimentar e não ter medo de errar, por isso que falo do laboratório solitário.
Eu penso, crio e preparo, porque o prato está na minha cabeça e a execução só eu sei. Quando dá certo chamo até o cachorro do vizinho para experimentar. Quando dá errado, não penso duas vezes de jogar no lixo....sem antes pensar o que fiz de errado.
Deixo a minha mente aberta para experimentar o antigo, o moderno e o novo.
Tudo isso misturado faz que eu crie